Soneto dos pêssegos



A amizade é como um Pessegueiro
O amigo é o fruto
carnoso e de uma só semente,
o amor

O prazer da amizade
é como a flor do pêssego,
suave, penetrante, linda
incomparável

Os pêssegos crescem junto ao pessegueiro
e surgem das flores que cintilam e resplandecem
nos trazendo o seu doce e suave aroma

Quem degusta desses pêssegos não desperdiça sua semente
As joga em terra fértil pra que ela cresça e frutifique
continuando assim o ciclo da amizade


Sebastião Sérgio

Apenas mais uma história

Ontem morreu
um fumante afogado.
Pobre Coitado.

Comprou um cigarro,
pagou e bebeu um café fiado.
Depois ficou sentado
num banco de metal enferrujado.
Levantou, calçou o chinelo.
Andou uns metros.
Pensou na vida.
Escreveu uma carta
com duas palavras.
Andou mais,
Viveu mais,
um pouco mais.
Correu até o cais,
fumou o cigarro
sem prazer, sem amor
a fumaça, assim tragou.
Estava com a cabeça cheia.
Era pobre.
Pensou mais um pouco.
Respirou fundo e
mudou a história.
Não morreu.
Assim sucedeu.
As duas palavras foram emboladas
e junto com o vício afogadas.
Tudo mudou.

Eu, a árvore



Sou uma árvore e estou sendo atingida pela esterilidade
A árida e rígida seca me atormenta e me consome, aos poucos
Ao meu derredor vão surgindo pedras, tragas pela ignorância
Estéril, minhas folhas vão caindo e me sinto nu, inseguro

A água que antes me banhava sem cessar
Agora se desvia, devido à barreira de pedras
E o radiar da luz do sol, que me cintilava
Agora é interrompido pelas negras nuvens

Mas, não cheias de águas

Todavia tenho esperança no Jardineiro
Que ele venha e extraia o câncer dos meus galhos
Que me regre, com águas brandas
Retire as pedras e me adube, de amor e cuidados

E depois de seu carinho em servir
Eu, a árvore, cresça e possa esverdear
E minhas cóleras queimem sem misericórdia
Frutífero novamente me tornarei

Que meu futuro frutífero,
seja mantido com minhas sementes
E que sempre tenha,
Um jardineiro fiel e servo ao lado

Sebastião Sérgio

Ao Poeta de cada um



Ser poeta é ouvir antes de tudo
é ser nada é ser tudo
literalmente
poeta não sonha, molda o futuro

Poeta não vive na carne, vive no verbo
poeta é ser o que quiser ser
pode ser uma pedra que tudo vê
ou tudo que vê pedra

Poeta tem só alma
não se hesita, fica na calma
É neutro, é branco, é paz
é moça, é rapaz.

É negro, é mulato, é branco
é mal, é bom, é santo
é presente, é ausente,
é animal, é gente

Ser poeta é temer o ponto final
É exaltar a vírgula
Reclamar à exclamação
Questionar a interrogação

E chorar de tanto amor
É ser intimo da eloqüência
é ser leitor
é ter consciência

É, enfim, viver quando quiser
Inspirar-se com café
é jogar o jogo
é ser velho, é ser novo

jovem flor



Andava certo dia quando se depara com uma flor. Essa que flor ainda brotava, porém seu amor por ela já salteava e não conseguia se conter, tamanha era a chama que o queimava. Ele todos os dias a banhava com água, e às vezes seu braço esticava para tentar nela encostar. Porém lembrava que era broto, e não podia. Porém no outono, as suas folhas caíram, mas o jovem não desistiu e disse que esperaria o tempo que fosse pra ver aquela flor de novo. E o tempo passou e passou, e ainda passa e ele continua a espera da primavera pra rever a cor da flor que o consome de amor.

Sebastião Sérgio

{suplemento



Se eu puder evitar que um coração se parta
Não viverei em vão.
Se eu puder suavidar a aflição de uma vida
Aplacar um dor,

Ou ajudar um frágil passarinho
A retornar ao ninho,
Não viverei em vão.

Emily Dickinson

Soneto do Amor Eterno



O amor não é físico, é sobrenatural
é sentir sem tocar, viver sem lamentar
é ver o invisível, ser incorruptível
é simplesmente sonhar

Amar é crer, é exceder
É viver, é ser
É se alimentar de afeto
ser certo, estar perto

É voar ao ar, imaginar
É ouvir, é falar
É com pouco, saciar

É jubilar com a presença
contentar com a essência
e ter com quem viajar, no mundo dos sentimentos.


Sebastião Sérgio