viagem

o vento vai trilhando a vontade de chegar,
a gente vai desligando da vida que ficou,
e ficamos atordoados, perplexos com tanta novidade.
tudo é tão lindo.
trecho a trecho
o paraíso vai se completando,
os olhos vão sendo guiados
pelo quadro de riscos verde do mato,
o cheiro de saudade vai misturando
como perfume esperado da surpresa.

meu Deus. é tanto chão pra cortar.
tanto mar de asfalto pra navegar.
o destino escolhido é perdido
para redescobrirmos o desconhecido.
o tempo vai se extendendo
e não quer mais passar,
acho que ele também
gostou da viagem

corte

Corte sem navalha
e sem simetria
vai cortando e
retirando todo
o escesso poético,
todo o além da
poesia

sou pó entregue ao acaso
quem dera fosse vaso
e espedaçasse pelo ar
ao menos assim,
teria motivo pra chorar.

na memória

sob o telhado
sujo, negro, com mato
mato seco,
seco o ar
lembro assim
como uma imagem
de momento, o
momento do
verbo, o primeiro,
o rebento,
nasceu aqui em um
muro de placa
chumbado de cimento
dele veio
de anexo
a paixão literária,
solitária, o amor
ao verbo, ao liberal
anormal

lindo é apaixonar
pelos textos, pela
língua
continuar a sincronia
do amor, do nosso
amor
texto meu, texto seu,
texto exposto,
texto fosco,
vamos juntos
com força
com grito
o som, silencioso
da voz uníssona da
alma solitária.

música

banquinho e violão
calos no dedos,
suor na mão
toca meu caro balão
bossa nossa,
nossa bossa,
música cantada
canção musicada
de onde vem
tamanha inspiração
mãos ao ar,
pés ao chão,

confuso até no título

sou um nato
apaixonado
vejo, amo
logo apaixono
o que tenho,
senão vago
vão de palco
chão,
sem palavras
pra falar me
ponho a clamar
como pode
ser amor
o que sinto
sem parar

sobremesa

sobre a mesa a sobremesa
sob a mesa, sobre a mesa
surpresa! nada havia
sob a mesa / nada havia
sobre a mesa / não havia
nem a mesa / só restou
mesmo a sobremesa.

o amor veio

o amor veio a galope
pulo a pulo / bote a bote
me atingiu / como um golpe
Lança quente /fura a gente
fervente e inocente veio o
amor.

avante

sempre avante!
não derrapante!
olho atrás a todo
instante / no anseio
incessante de ser um
imigrante /desse vasto
planeta distante

meu texto

o meu texo
quando se expõe
torna-se gente
e logo vira cão
vai devorando
minhas idéias
e se despindo
da roupagem
que o coloquei
fica nu e só
ele geme e grita
o leitor o escuta
e o trata com afeto
e o cativa a se expor
eu, de longe, o observo
e o leitor o coloca
uma coleira
logo, ele abana
seu rabo e late
como se dissese
- sou seu.
eu logo abaixo
minha fronte
e me ponho
a chorar
a morte fracionada
de mim mesmo.