ironicamente irmãos

Jovens dançavam no ônibus em movimento.
Logo a frente via-se uma ponte.
Ponte sobre trilhos do trem.
De onde vinha aquela máquina?
E para onde iria o veículo
cheio de sonhos e sonos?
O ônibus seguia o planejamento,
soltava uma linha invisível
de combustão finada.
Dentro dele vários pensamentos sem vínculo.
Juventude transviada e viciada.
Na margem daquela ponte
de concreto forte, como o orgulho,
um jovem admirava o brilho
metálico dos trilhos. Em sua mente
uma antiga convicção de morte.
Queria terminar com seus sonhos
e não tinha esperança pós morte.
Queria ser análogo aos cães.
Sofreu e deu amor,
mas não quiseram o amar,
preferiram o ver se entregar
a miséria sentimental.
Onde estão os valores? Pensava.
E de tanto pensar chegou
convicto à idéia de finados.
Estava lá imóvel a espera da hora certa.
Seu coração não queria mais sentir,
apenas pulsar em seu ritmo acelerado.
Olhou em volta sentiu na pele
o vento veloz trazido pelo ônibus
cortando-o como uma navalha de gelo,
mas, sem o coração pra sentir
não sofria o impacto, apenas imaginava.
Os risos escandalosos dos jovens
dentro do ônibus, o impulsionaram ao precipício.
Restou frases na cabeça partida sobre os trilhos,
palavras escorriam como sangue.
Dizia assim a desgraça expostas:
Como não se compadeceram de mim?
Eu aqui sofrendo, posto ao fim
Já eles apenas preocupados com o tempo,
a velocidade e a quantidade de álcool
que ainda dispunham.
Mesmo assim pai, eu os considero irmãos.

raros encontros de sol e ar

Quando sua face esquerda
deitou no meu ombro direito,
meu coração, de ambos os lados, lhe dei.

Quando sua mão esquerda
entrelaçou com minha mãe direita,
minha paixão, em ebulição, lhe mostrei.

Seu toque meigo
encontra a metade do meu eu,
fundo, dentro de mim.

já não precisamos de muitas palavras,
apenas olhares sinceros e ocasionais
para viajarmos para nosso mundo.

opróbrio do passado fresco - parte 1

Pra mim foi complicado ‘tentar’ me criticar - no sentido mais penoso da palavra - e concluir que tudo que fiz foi não ter força ou coragem pra agir. Não uma ação utópica, radical, mas apenas uma ação coerente com aquilo o que disse, ou no caso do texto, com o que escrevi. Desde já lhe peço desculpas pelo que venho escrevendo, não pelos poemas – poemas são pessoais e, pra mim não tem peso político ou revolucionário, unicamente são coisas que desejo escrever, algo visceral -, e sim por todos os textos com peso esperançoso em mudanças pessoais ou universais. Fui covarde, em todos os sentidos, comigo mesmo e conseqüentemente com quem leu. E quero agora tentar reaver o tempo perdido ou talvez acrescentar alguns minutos nesse tempo.
As palavras aceitam tudo. De vômitos verbais a ignomínias literais. Não que haja problema em escrever ou expor algo. A meu ver, constitui um problema quando insultamos o sentido real das coisas e criamos textos de protesto totalmente ficcionais, nada tendo de verdade e sim tudo tendo daquilo que pensamos ser o melhor, o correto. Afinal de contas para cada gênero literário há um padrão invisível estipulado para caracterizá-lo. O problema é que esses padrões de orientação se perdem em meio a tantas confusões. Exemplo: a Ficção vem demonstrar algo meramente irreal em seu tempo, buscando uma viagem para um lugar criado, desenvolvido e propositalmente escrito, já o conto relata algo do cotidiano trazendo detalhes que prende o leitor para acompanhar o desfecho e reagir de alguma maneira. E os textos de protesto, de indignação, de insatisfação, tão presentes na blogosfera, pra que servem? Essa é uma pergunta que deveria estar nos pensamentos daqueles que fazem como eu. E a resposta é simples, basta entender o verbo que classifica esse gênero: protesto.
Pra que eu escrevo e exponho protestos? Eu posso te listar várias desculpas que eu iria dar tentando dizer que é uma razão, mas já adianto, não é. A primeira que é necessário desenvolver meu método de escrita, preciso disso, gosto disso. Bom, mas para fazer isso não é necessário encobrir o texto com valores morais às vezes desconhecidos ou mesmo, tentar mostrar que o mundo é sem ética e somos do mundo. Certo, disso podemos tirar uma conclusão lógica, eu também sou sem ética. E pra que serviu meu treino? Pra admitir, inconscientemente, que tudo que fiz não passou de tempo perdido, de um abraço no vento.
Talvez esteja pensando: “Que idiota falar disso”, ai te digo com prazer: “Hora alguma de forcei a ler”. A partir dessa frase continue quem tiver vontade, quem não quiser que vá ler outras coisas, o importante é ler, pois talvez você chegue a pensar no que eu penso: que as letras expostas possuem força, poder, mágica e graça, e não foram criadas para serem despejadas como forma de alimentar nosso ego. Não que isso seja uma verdade incondicional, é apenas o que penso. Pra quem continua meus sinceros pêsames, afinal não vai ser fácil entender meu monólogo.
Outra desculpa é que talvez se tivesse poder faria desse mundo um lugar melhor. Meros sonhos. Já me entristeço por tocar sua caixa de ultra-realidade. “Sem sonhos a vida é sem graça”. Bravo e que bom que chegamos até aqui. Sonhar, isso é bom não acha? Ou melhor, é uma das virtudes humanas. Porém os sonhos devem ser mensuráveis ou tentados, abusados, incitados, senão se tornam parte de um passado esquecido, afinal a memória é volátil.
Protestar, apenas, em texto é como gritar em silencio. Agir sem base, rumo ou crença é como atirar vendado. Há uma intensa ligação entre a ação protestante e a teoria de protesto. Corrigindo, deveria ter. O que vemos são intensas maiorias vendo um mundo de uma ótica fosca e tentando descrevê-lo com o máximo de sensacionalismo buscando impressionar e encher os olhos do leitor. Talvez eu faça isso e quero não fazer. Há uma legião de leigos acompanhando as pessoas e suas relações para compor antologias sociais em seus impecáveis blogs. Talvez você seja um conhecedor dessas relações e tente explicá-las, nesse caso desconsidere o que falo. Falo mesmo é pra mim que sou ignorante, de um modo geral. Termos como, dar murro em ponta de faca, fazer castelo de arreia na maré alta, seja uma boa ilustração para tudo isso. Pura futilidade. Talvez suas palavras me toquem e não tocam você. Perca de tempo mais uma vez. Isso que hoje tanto te indigna foi o estopim para muitas revoluções, não apenas teóricas, mas, sobretudo práticas.
Não discordo de pensar que é mais fácil criticar meu colega do que pensar que eu sou meramente mais um desses. Não que eles sejam diabólicos. Mas se isso tanto me atinge, a ponto de protestar ao mundo, por que não faço algo? Por que não me mexo? Seria para ter o que criticar amanhã? Ou pra fazer de mim um semideus e deles, meus criticados, meros seres humanos? Você tem pré-conceitos quando escreve e quando vive se cala. Palavra sem voz é palavra perdida. E essa voz da frase anterior não é apenas sonora e sim algo que impulsiona o cumprimento do comprometimento solene, do protesto feito. Descontente comigo mesmo. Talvez um dia – por mais lúdico que pareça – alguns prefiram andar pelas ruas de cabeça erguida e braço estendido, do que caminhar cabisbaixo em busca de mazelas humanas. Não preciso analisar a sociedade para me revoltar, basta apenas me observar. E se o mundo é assim a culpa é minha.

rabiscando

meus versos não são tão apreciáveis.
não possuem os sabores dos gênios, nem
não são tateados com os dedos divinos.
são rotineiros, mas sem a magia verbal
ora extensos, como uma volta à terra,
ora curtos, como o percurso dos segundos.
às vezes, vejo-me em meus escritos
em outras ocasiões repudio-os.
inevitavelmente criei um vínculo
com meus poemas.
uma intimidade transcendente ao normal
uma relação própria de
guerra e paz
pranto e gargalhadas.

ensaio sobre a saudade

Lutar contra o tempo era a única saída. Tentar se culpar era o que mais fazia. Tratava-se como se o tempo fosse escutar suas inquietações. Mau humor, estranheza frequente. Mas aos poucos toda sensatez ia retomando seu posto, como um soldado em ensaio militar. Hospedava na memória retalhos e vestígios de encontros fragmentados por doses de interferência e lapsos de confiança. O hospede o atentava - não atentado de terror e sim atentado de doçura e descanso -. O atentado doce como mel era também parasita e viajante. Saia e se alojava no esquecimento. De lá com frequência partia rumo à lembrança, porém, permanecia pouco tempo. Tentava transformar o mutável em constante. Seus sentimentos borbulhavam como água em chamas. Seus olhos pediam a face daquela que o aproximou das virtudes da paixão e o distanciou dos legados de ser só. Sua boca ainda esperava um toque de leveza e pureza dessa que era como uma extensão de si mesmo. O desejo era tão ávido e forte, tão claro que se assemelhava a rajadas de luz soltas de um farol velho e descontrolado. Era forte, embora seus anseios o impactassem como um tanque de guerra em intenso guerrear. Feliz era sim, porém, a probabilidade de ter um melhor momento o trazia a tristeza. Tristeza de um espaço não preenchido ou uma vaga mal posta. Uma dose de calor ou uma pitada de presença seria a gratificação das lapadas súbitas do tempo. Eram açoites de saudade. Eram desgastes da vontade. Quase impenetrável, a barreira do tempo, do espaço, da saudade e da vontade que impedia o jorrar da paixão. Mas, felizmente, prevalecia o simples amor, que não é vulnerável, nem estagnado. Concluiu novamente que a esperança invariável, a fé inabalável e o amor inexplicável eram indestrutíveis e dentre todos esses o amor é soberano.

resoluções inconcretas

resolvi pensar nas coisas distintamente
colhendo o mal de cada dia,
gozando o bem de cada benção.
dividir os pensamentos por momentos
não apresar, não surtar
ser ameno brando suave.

viver o presente e - se possível-
estar presente.
resolvi segurar a bandeira
levar a canseira
e seguir te amando.
mesmo que a opacidade
mantenha minha visão fraca
sei que no final
entoarei mais alto que
o grito da solidão

que prensar em ti
transcenda a distinção.

alma musical

já nascemos com música
entalhada visceralmente
bem no cerne, bem na alma.
soa no ar alguma melodia
os pés palpitam,
as mãos balançam,
as orelhas arrebitam.
ouça o compasso já decorado
acompanhe o ritmo decifrado
um dois, dois um,
dois um, um dois
tantas ondas, tantos tons
só resta emitir do peito
comparar a balada e inalar
o íntimo da canção.

percurso afável

quando lhe vier versos em mente
não tarde ou atrase em escrevê-los
eles fogem como águas nas mãos
são rebeldes e libertários ...
eu sempre luto com os meus
tento discipliná-los e ensinar
minhas políticas e tratados.
mas eles veem minhas mazelas
e estampam em minha face:
como um líder sem escrúpulos
pode governar as palavras?
então desisto e volto descontente
mas logos vêm eles arrependidos
e me mostrar um mundo lúdico e encantador
me apaixono novamente e eles saem felizes
e estampam em minha mente.
mas minhas facetas são tantas ..
e logo me pego a sofrer
e eles se perguntam por que?
também não sei.
e eles desistem das respostas
e tentam apenas me agradar
me levam em um patamar além daqui
me transportam para novos mundos
onde a saudade é inspiração
onde a solidão não existe
onde o sofrimento não atina
no complexo e indescritível
reino das palavras

o homem e o duto

O que vejo são dutos. Dutos tapados.
Impregnados de cimento da ilusão e
Revertidos de uma falsa decoração inconsequente.

De um lado um homem mórbido e de pé,
semelhante as suas esperanças.
Homem de senso, mas visto como sem sentido.

Vejam seu olhar fito na entrada.
No que será que pensa?
Há ainda chances de não converter
seu momento diante do duto em banalidades,
como fez com tantos planos que fizera.

Resta tempo, falta coragem,
sobre-lhe muitos pensamentos.

Do outro lado o que se tem
é um vago, um nada, uma escuridão.
Imaginações e sonhos só ousam
habitar ali quando são orientados
pela lógica ou pela realidade.

E a cima da visão do homem e do duto
há uma fé sem condições tão clamada
a qual permanece estática, apenas
traduzindo choro e tristeza
em contentamento e ânsia
por verões mais contentes.

apatia incômoda

e quando a apatia vier
se esconda nas lembranças
vislumbre com os olhos da fé.
afinal o futuro próximo é incerto
mas a esperança é doce.

um cosmopolitano atrapalhado

Tanto tempo refletido em sensações de amor e de compreensão
de muitos sorrisos compactados em pequenas porções de versos
de pensamentos cor de paixão, dizeres com tons de amor eterno.
havia uma espera banhada com um choro solto,
mas logo tudo foi convertido numa certeza honesta
e numa ligação com o Supremo, dando fôlego aos mergulhadores
do vasto amor dos abraços

foram dois mundos convergindo num mesmo cosmo
e circulando o grande e eterno Sol.
uma sincronia não física, uma vibração
que transpunha pedidos mútuos e comuns
sem barreiras, sem medos.

o longo e insaciável desejo de estar perto,
alguns olhares presenciais, outras vezes, um abraço.
e um beijo eterno rondava meus lábios,
uma eternidade vinda pelo amor crucificado,
veio certificando da certeza do que sinto,
uma pureza interna e um sorriso que alivia os incautos da vida.

és da cor humana, da aquarela mundana,
mas transmite ao meu olhar poético uma tonalidade inexistente
uma mistura de milagre e de repostas as clemências.
Orações de pedidos, de desesperos desnecessários,
à um Deus atento que nunca dormi e uma reposta num tempo áureo.
Tanto clamei, que logo me silenciei
mesmo pensando que não agüentaria tanta solidão.
mas a chuva torrente se converteu em frescor,
a seca em um campo cheio de verde, cheio de vida
e minha solidão, tão eterna aos meus olhos,
se converteu em uma companhia, uma amiga.
Minha reposta é como um sol brilhante,
como um nuvem carregada de coisas boas.
e assim meu pequeno planeta, ínfimo perante a galáxia de Deus,
foi sugado pela explosão do amor
fui mudado, fui fundido
isso é ínfimo, eu sei, e tudo isso é vaidade,
mas é intenso, é real.

as vezes a verdade dói.

Realidade. Discurtir filosofia, o cosmo, enquanto muito morrem sem ter o que discutir. Morrem calados, morrem atados com as cordas do NOSSO descaso. E muitos irão ler isso, e ficaram chocados, mas ninguém vive de dó e sim de pão e ação. Voltar a rotina sem refletir sobre isso, vai ser a reação da maioria. Rir de uma piada, tomar um sorvete ... Mas os nossos irmãos morrem sozinhos, afinal o egoísmo humano quer uma vida individual. E o abutre da vida, espera a sua comida, não porque ele é satânico ou cruel mas porque NÓS os entregamos a morte. Deus não aceita esse holocausto.

culto à velhice

depois de caminhar
na extensa e intensa vida,
estava ele olhando
tudo de cima pra baixo.
Sinal de referência ao tempo,
e de atenção aos detalhes.

Ao longe vestígios de tristeza
de perto certeza de vigor milenar

Nas mãos sacolas com pães
sem nenhuma história,
e dedos castigados
com a enxada na terra
com o suor no rosto

Seus pensamentos outrora
tão vagantes, agora se focam
no badalar pesado dos sinos
no silêncio desesperador dos ponteiros

Pensou tanto na morte
que se acostumou com ela.
Era uma certeza
que ele queria questionar.
Mas não podia.

A solidão era barrada
com o som dos pássaros
com o balançar dos ventos
Esses tais que nós,
iniciantes da vida,
nem vemos atuar

compassos largos

Um clarão diferente
sobreveio minha vida.
Um lapso de metamorfose;
algo como uma quebra.
Ou mesmo um estrondo.
De um vendaval sobrecarregado
de condições e critérios
veio um vazio doentio,
um pensamento indiferente.
Mutável me tornei.
Uma fumaça de vozes,
que dizem tudo para eles mesmos
mas não dizem nada para mim,
me atormenta e me pressiona.
Insano, insensato, insolúvel,
esse pensamento me dominava
Meu ser foi sendo acobertado
pela fantasia do comum.
Mas logo me sobreveio
a remanescente esperança
de paz e gozo.

virei um defensor
de causas próprias.
um pensador
pelo bem comum.
um egoísta relaxado,
um comunista da vida.

vestígios de um tempo

Um estado de angústia,
Um sentido de estagnação total.
Uma perca de cor,
Um momento cor âmbar,
Uma vida acinzentada.
Uma preguiça desumana,
Que pra compor esse verso
guerreei com minha complexa
convicção.

Poema vivido

II - Decreto amargo

Uma notícia chegou.
Num relapso acordei.
Estava lá um recado digital.
Peguei logo e li,
madrugada ainda.
Acordei me pus de joelho.
Falei com Deus, pedi ajuda.
Voltei a dormir,
nenhuma notícia nova,
preocupações buliam
minha mente.
Me peguei fraco a olhar
sua foto tão bonita,
seu olhar tão distante.
Agora um decreto baixou
sobre esse amor.
Um pedido invertido,
algo como: não ame mais,
esquece é rebento ainda.
Mas quem disse que amor
tem idade. Já era bem velho.
E já amara muito quando
ainda era novo.
E quem disse que amor
era fase, estava solitário.
O amor não tem tempo,
O amor não tem fase.
Paixão sim.Pode ter.
Mas amor, não.
Amor como um vínculo de perfeição,
um sentimento, um ato,
uma ação, algo descontrolado,
algo de vem de dentro,
uma espécie de anestesia
pra suportar a camuflagem barata
que o mundo chama de alegria.
O decreto vigorava
quando recebi novas noticias.
Me notificaram de tal lei.
Não tive reação. Como reagir?
Se nunca havia passado por isso.
Criei uma reação pra expressar tudo aquilo.
Senti medo.
Medo de ficar sem amor.
Mas logo calculei, pesei, equilibrei.
Amor nunca acaba já disse as escrituras.
Então, pra quê medo?
Troquei a reação.
Sentia esperança.
Pra que tudo desse certo.
Mas logo pensei claro que vai da certo.
Tudo crê, tudo suporta, repetiu
meu intelecto embasado no decreto puro.
Troquei a reação.
Tive tristeza.
Por saber que era difícil agüentar.
E logo me veio um consolo:
um trabalho bem feito.
Mas o amor proibido sempre
remexia minha mente.
Orei novamente, pedi novamente.
Agradeci dessa vez, sabendo que Ele iria resolver.
E vai. Troquei a reação.
Confiança, Convicção, Fé.
Esses não foram mais trocados,
permanecem sem esmorecer.
Desnecessário o decreto.
Onze meses de amadurecimento,
tudo bem encaminhado, uma raiz nascida
de uma semente pura, uma semente cuidada.
Todo o cuidado, pra saber que não posso
mais regrar o meu jardim.
Mas Deus mandará chuva.
E logo quando voltar a seca
estarei lá com o Habeas Corpus eterno
pronto pra regrar minha flor.

maldito que as vezes sou

recebeu de um desconhecido
uma pancada dessas bem fortes,
pequena fisicamente mas
forte em vontade,
não suportou a dor do choque.
Ficou a tentar sair da angústia,
de uma chaga não prevista.
Seus pensamentos foram abalados
com o impacto físico inesperado.
Logo pôs-se a circular em volta
de si, em volta da amnésia.
Suas patas doidas tentavam
encontrar força na esperança,
porém, o cérebro não resistirá
a forte convicção da razão.
Foi seguindo numa imensidão branca,
como um chão congelado
ora em linha reta, num lapso de sensatez
ora em círculo, como um reflexo da desgraça
ora sobre seu corpo sem peso, como uma resposta epilética.

Foi e perdeu-se de vista.
Embora eu ainda insista,
em ser o desconhecido.

poeta autodidata

Represento por esse manifesto,
uma forma de dizer a que vim.
Bom, caro leitor desse aglomerado
de versos e ritmos que tanto me faz feliz,
quero lhe expressar, sem receios,
o que sinto na harmonia poética
anexa a tudo e a todos
numa frenética sincronia de
ações, movimentos e reações.
Sei que, indevidamente,
relato nos meus escritos,
alguém que passa sem deixar traços
pra maioria sonolenta. Eles não percebem
o valor poético de cada um,
porém a vida ensina que extrair disso um verso,
traz um marca extensa pra vida toda.
Sei que a complexidade de uma inspiração,
vai além do que digo, porém, meio que
de soslaio intelectual faço desse achado
uma forma de me firmar como um
telespectador da vida e um aprendiz eterno.
Mestres existem com seus papeis
rabiscados de dedicação ou com ações poéticas sem tinta.
Esses mestres, embora desconhecidos,
fazem de mim um aspirante a tal ato.
Sei que nem chego aos pés de tais
ou mesmo de desatar as sandálias
de alguns.
Embora uns sejam mestres, não são dignos
de tamanha relevância e humilhação,
porém outros exigem um fator de extremo
agradecimento e uma eterna gratidão.
Logo me vejo refletir em seus pôsteres gigantes
meu retrato três por quatro.
Quem sabe eu, em um dia de uma estação qualquer,
seja um porta retrato de tamanho maior,
e de um simplicidade a tocar o mundo com verbos.
Quero caminhar. E se sofrer, serei como o infortunado cão,
sempre atento e sempre amante da vida,
e se me alegrar, vou me encontrar depois das 5:30
com o amor eternizado no verbo que criei.
Quero ter fé, fé na vida, na verdade,
no caminho, nas veredas, nos desertos,
em mim mesmo, em Deus.

sendo assim agradeço
seu tempo.

infortunado

Profundos e aflitos olhos,
rosto melancólico,
um latido fraco
falando do perigo,
mas sem força pra lutar.
Corre com seu pêlo
marcado pela dores da vida,
pela derrota da disputa
que nem queria entrar.
Pobre dele, ninguém o vê.
Jogado pelos lados.
Até se aventura a brincar,
mas com quem?
a noite chega...
sua solidão agrava
seu choro transpõe e ele lati,
bem baixo pra não chamar o perigo.
Ninguém o ouve.
Vira a noite, vira a lata,
vira tudo, vira nada,
não há amigos, não há consolo.
Mas ele ainda,
faz do latido, poesia.
faz do seu pêlo, proteção.
faz de si mesmo, um amigo.
E ele, o infortunado cão,
vive pata a pata chão a chão.

poema vivido

Parte I - aurora


Numa época árida,
mergulhado em um mar vasto,
entre problemas estendidos
e soluções adiadas.
Estava, eu, o náufrago,
a compor este poema.
Tempos oscilantes de
um vida complexa e de
um mundo em caos.
Tremores físicos se chocam
aos tremores permanentes
da desigualdade mundial
e do poder compulsivo.
Eu também sofria com eles
e com um próprio tremor,
o de abalos sentimentais
em estruturas de identidade.
Havia eu, um jovem,
perdido um pouco a ficção
de outrora.
Era, agora, mais realista e sensato
Embora, mais melancólico e frio.
Sentia falta da fantasia,
porém, me acostumara com
o comum rígido humano.
A rotina que eu enxertava
com surpresas, perdeu o brilho
e tornou monotonia,
pena tenho disso e de mim mesmo.
Um coisa que permaneceu
não inabalável foi a esperança
e a convicção de fé.
Pra que tudo de outrora retorne
conservando o bem de agora.

do Haiti

O céu de poeira surgiu.
De um jeito inverso.
Veio um abalo,
meio sem rumo.
Pegou inesperado
de mendigos à
presidentes.
Quem apagou
a luz da sobriedade?
Por que ouço gritos?
Veio a baixo o teto
aparentemente era
imortal, imóvel, eterno.
Tudo no chão,
culpa do chão.
Catástrofe! Maldição!
Ao longe nos montes
tudo submerso
por um onda maligna,
de espumas negras
e inóspitas de poeira.
Na planície corpos
presos pelas algas de
ferro fundido
e concreto armado.
Todos à espera
de pescadores
de almas e corpos.
Quando virão?
Ouço gritos!
De onde vem?
Não sei nadar
vou tentar, também
gritar!

rotina

Quase oito,
abro os olhos,
um a um.
Vejo em uma
luz que me
informa o tempo.
prefiro acreditar
que tenho mais tempo.
volto pra cama,
vejo novamente a luz
e me apresso
afinal não há
mais tempo.

meu dia de ontem

foi e fui assim, um dia inteiro.
de emoções e sarcasmos.
à perdas e encontros.
fomos, nós, sem ela,
pra um lugar ido,
mas desconhecido.
fomos como diz a canção.
seguimos o vento e as opiniões,
sendo que o vento
era a melhor escolha, sempre.
um dia de contrastes,
de um cinza melancólico
e dopado de tristeza
à um ambiente
de cores refrigeradas
por um ar constante
e glacial.
Erámos nós como
agulhas no palheiro.
e esse palheiro era
tão bom, que não
queríamos que se
queimasse nunca.
As agulhas andavam
de um lado pro outro
de do outro pro lado.
mas algo me lembrava
no interior de mim mesmo
do interior de todos nós.
Momentos de pensar,
mas num palheiro,
o pensamento tem que
ser rápido e conciso.
Bom a minha agulha menina
era tão linda, embora tão distante,
sentia falta dela.
seu abraço frouxo de outrora
fazia tanta falta em meio
a empurrões e encontros
impessoais.
povo frio, sem calor
sem vigor e sem querer.
eu era tão feliz com ela
e era feliz ali, mas precisa
de algo mais humano
e mais tocante.
foi legal saímos do palheiro
perdidos a um sentido oposto.
perdidos a momento em um sentido certo.

eu perdido em pensamentos
por ela. e pelo que ela é pra mim.
foi assim meu dia de ontem.

depois das 5:30

Dia calma de verão,
pessoas nas ruas,
as ruas no chão,
o chão nele mesmo.

A espera impaciente.
Um desejo por não ser
hoje.
Tremulo por que?
Não sou assassino.
Na verdade sou sim.
Estou assassinando
a mim mesmo,
o ser virtual.

Por que a diferença.?
Pensei ser fácil,
mas não era assim.

De repente de longe
um vulto lilás.
Uma espécie de anjo,
O anjo tão esperado,
O anjo tão amado,
Um anjo tímido.
Era como um colírio
como um calmante
e como um veneno.
Sentia oscilações
de sentimentos.
E agora como me
comportaria?

Foi assim
um abraço frouxo.
Mas um toque na pele.
Um sentir do calor alheio.
Foi bom, embora rápido.
Mas pra quem esta oscilante,
o tempo tem que ser rápido.

Qual a próxima etapa
sentar, pra descansar
da dor de ficar de pé
e tremer todo o corpo.

Que tal um banco público,
defronte uma avenida,
onde muitos passam
sem perceber o amor ali.

Estranho não havia beijos,
Estranho não havia abraços.
Restrição penso eu.
Ou será medo de estragar tudo?
Ou será tudo?

Minutos como horas.
Segundos como semanas.
Assuntos vagos, mas necessários.
Assuntos úteis, mas desnecessários.
Nenhuma ousadia de ambos.
Retalhos de uma última lição.
O rebento pros dois, o primeiro
Não podia ser tão espontâneo mesmo.

Um presente guardado com ardor
Uma leitura rápida pra captar
o dia e aquele momento, tão
rápido e marcante pra mim.

Não sei se tudo continuará como era.
Mas acho que não, tudo muda agora.
Mas não quero me amedrontar
e dizer que não tentei.
Fui guerreiro, falei o que devia.
Falei o que não queria.
Disse pouco do que tanto
te falo no verbo.
Mas fui assim, até o fim.

No final de tudo,
um beijo no rosto de mel,
com a leveza e a delicadeza
de uma cacho negro de cabelo.
Um dizer convicto
te amo.
isso foi o ápice da tarde.
o resto foi cotidiano.

foi o melhor momento da
minha curta e rara vida.
Espero que se repita,
mesmo que seja estranho
mesmo que seja anormal
mesmo que seja doido,

Um filme quem sabe.
Um sorvete pode ser.
algo assim pra esquecer
o silêncio e distrair o tempo.
Não toquei suas mãos,
tolo que sou.
Mas amor, saiba que
quero muito fazer tudo isso.
Mas não sou tão forte,
afinal uma rainha
deve ser tratada com
apreço por seu plebeu.

faces da morte

Muitos morrem de fome
Muitos morrem com fome
Muitos morrem sem fome
Muitos morrem,
Muitos morrem,

Muitos morrem de sede,
Muitos morrem com sede,
Muitos morrem sem sede,
Muitos morrem,
Poucos sobrevivem,

Muitos morrem de solidão,
Muitos morrem com solidão,
Muitos morrem sem solidão,
Poucos sobrevivem,
Raros, muitos raros
vivem

Vida, eu quero é vida.
Sei que a morte, anda forte,
Mas nós temos uma saída.
A vida, e pra ela não há
despedida.

essa são as fortes da morte,
as faces da vida são
as proporção inversas da anterior.

moço, também tenho sonhos

Acordei hoje, meu amor
com estrelas nos olhos,
com flores nos lábios
e com paz à volta.

Olhei pra ti, paixão
e estava com face intensa
adornada por um brilho,
que era só seu.

Toquei um lado do seu rosto
a face direita, me lembro bem.
Toquei com receio
era singelo e puro.

Doce e macio, me lembro
como se fosse real.
Era bom, era lindo.
Passamos auroras juntos.

Do toque sutil e leve,
segurei seus negros cabelos
puxei seu rosto pra mim.
Foi lindo, foi bom.

Passamos um tempo juntos.

Seu rosto toquei no meu.
Macio e quente era.
Seus lábios contemplei,
bem de perto. Criei coragem.

Como mel, seus lábios.
Como meu, queria tê-los.
Num golpe de destino e tempo,
Toquei eles com o toque dos meus.

Passamos um verão nosso juntos.

Durou o tempo preciso.
Segurei sua mão.
Passei meus receios
pro nó da dança dos nossos dedos.

Receios, medos e problemas,
passamos juntos, unidos.
Minha amada e seu mel viciante.
Que dure um eterno instante.

Quero ser seu,
Quere seu mel,
Ver juntos o céu,
particular.

não apenas um ou outro,
mas um par.
pra ficar à par de tudo
isso.