infortunado

Profundos e aflitos olhos,
rosto melancólico,
um latido fraco
falando do perigo,
mas sem força pra lutar.
Corre com seu pêlo
marcado pela dores da vida,
pela derrota da disputa
que nem queria entrar.
Pobre dele, ninguém o vê.
Jogado pelos lados.
Até se aventura a brincar,
mas com quem?
a noite chega...
sua solidão agrava
seu choro transpõe e ele lati,
bem baixo pra não chamar o perigo.
Ninguém o ouve.
Vira a noite, vira a lata,
vira tudo, vira nada,
não há amigos, não há consolo.
Mas ele ainda,
faz do latido, poesia.
faz do seu pêlo, proteção.
faz de si mesmo, um amigo.
E ele, o infortunado cão,
vive pata a pata chão a chão.

poema vivido

Parte I - aurora


Numa época árida,
mergulhado em um mar vasto,
entre problemas estendidos
e soluções adiadas.
Estava, eu, o náufrago,
a compor este poema.
Tempos oscilantes de
um vida complexa e de
um mundo em caos.
Tremores físicos se chocam
aos tremores permanentes
da desigualdade mundial
e do poder compulsivo.
Eu também sofria com eles
e com um próprio tremor,
o de abalos sentimentais
em estruturas de identidade.
Havia eu, um jovem,
perdido um pouco a ficção
de outrora.
Era, agora, mais realista e sensato
Embora, mais melancólico e frio.
Sentia falta da fantasia,
porém, me acostumara com
o comum rígido humano.
A rotina que eu enxertava
com surpresas, perdeu o brilho
e tornou monotonia,
pena tenho disso e de mim mesmo.
Um coisa que permaneceu
não inabalável foi a esperança
e a convicção de fé.
Pra que tudo de outrora retorne
conservando o bem de agora.

do Haiti

O céu de poeira surgiu.
De um jeito inverso.
Veio um abalo,
meio sem rumo.
Pegou inesperado
de mendigos à
presidentes.
Quem apagou
a luz da sobriedade?
Por que ouço gritos?
Veio a baixo o teto
aparentemente era
imortal, imóvel, eterno.
Tudo no chão,
culpa do chão.
Catástrofe! Maldição!
Ao longe nos montes
tudo submerso
por um onda maligna,
de espumas negras
e inóspitas de poeira.
Na planície corpos
presos pelas algas de
ferro fundido
e concreto armado.
Todos à espera
de pescadores
de almas e corpos.
Quando virão?
Ouço gritos!
De onde vem?
Não sei nadar
vou tentar, também
gritar!

rotina

Quase oito,
abro os olhos,
um a um.
Vejo em uma
luz que me
informa o tempo.
prefiro acreditar
que tenho mais tempo.
volto pra cama,
vejo novamente a luz
e me apresso
afinal não há
mais tempo.

meu dia de ontem

foi e fui assim, um dia inteiro.
de emoções e sarcasmos.
à perdas e encontros.
fomos, nós, sem ela,
pra um lugar ido,
mas desconhecido.
fomos como diz a canção.
seguimos o vento e as opiniões,
sendo que o vento
era a melhor escolha, sempre.
um dia de contrastes,
de um cinza melancólico
e dopado de tristeza
à um ambiente
de cores refrigeradas
por um ar constante
e glacial.
Erámos nós como
agulhas no palheiro.
e esse palheiro era
tão bom, que não
queríamos que se
queimasse nunca.
As agulhas andavam
de um lado pro outro
de do outro pro lado.
mas algo me lembrava
no interior de mim mesmo
do interior de todos nós.
Momentos de pensar,
mas num palheiro,
o pensamento tem que
ser rápido e conciso.
Bom a minha agulha menina
era tão linda, embora tão distante,
sentia falta dela.
seu abraço frouxo de outrora
fazia tanta falta em meio
a empurrões e encontros
impessoais.
povo frio, sem calor
sem vigor e sem querer.
eu era tão feliz com ela
e era feliz ali, mas precisa
de algo mais humano
e mais tocante.
foi legal saímos do palheiro
perdidos a um sentido oposto.
perdidos a momento em um sentido certo.

eu perdido em pensamentos
por ela. e pelo que ela é pra mim.
foi assim meu dia de ontem.

depois das 5:30

Dia calma de verão,
pessoas nas ruas,
as ruas no chão,
o chão nele mesmo.

A espera impaciente.
Um desejo por não ser
hoje.
Tremulo por que?
Não sou assassino.
Na verdade sou sim.
Estou assassinando
a mim mesmo,
o ser virtual.

Por que a diferença.?
Pensei ser fácil,
mas não era assim.

De repente de longe
um vulto lilás.
Uma espécie de anjo,
O anjo tão esperado,
O anjo tão amado,
Um anjo tímido.
Era como um colírio
como um calmante
e como um veneno.
Sentia oscilações
de sentimentos.
E agora como me
comportaria?

Foi assim
um abraço frouxo.
Mas um toque na pele.
Um sentir do calor alheio.
Foi bom, embora rápido.
Mas pra quem esta oscilante,
o tempo tem que ser rápido.

Qual a próxima etapa
sentar, pra descansar
da dor de ficar de pé
e tremer todo o corpo.

Que tal um banco público,
defronte uma avenida,
onde muitos passam
sem perceber o amor ali.

Estranho não havia beijos,
Estranho não havia abraços.
Restrição penso eu.
Ou será medo de estragar tudo?
Ou será tudo?

Minutos como horas.
Segundos como semanas.
Assuntos vagos, mas necessários.
Assuntos úteis, mas desnecessários.
Nenhuma ousadia de ambos.
Retalhos de uma última lição.
O rebento pros dois, o primeiro
Não podia ser tão espontâneo mesmo.

Um presente guardado com ardor
Uma leitura rápida pra captar
o dia e aquele momento, tão
rápido e marcante pra mim.

Não sei se tudo continuará como era.
Mas acho que não, tudo muda agora.
Mas não quero me amedrontar
e dizer que não tentei.
Fui guerreiro, falei o que devia.
Falei o que não queria.
Disse pouco do que tanto
te falo no verbo.
Mas fui assim, até o fim.

No final de tudo,
um beijo no rosto de mel,
com a leveza e a delicadeza
de uma cacho negro de cabelo.
Um dizer convicto
te amo.
isso foi o ápice da tarde.
o resto foi cotidiano.

foi o melhor momento da
minha curta e rara vida.
Espero que se repita,
mesmo que seja estranho
mesmo que seja anormal
mesmo que seja doido,

Um filme quem sabe.
Um sorvete pode ser.
algo assim pra esquecer
o silêncio e distrair o tempo.
Não toquei suas mãos,
tolo que sou.
Mas amor, saiba que
quero muito fazer tudo isso.
Mas não sou tão forte,
afinal uma rainha
deve ser tratada com
apreço por seu plebeu.

faces da morte

Muitos morrem de fome
Muitos morrem com fome
Muitos morrem sem fome
Muitos morrem,
Muitos morrem,

Muitos morrem de sede,
Muitos morrem com sede,
Muitos morrem sem sede,
Muitos morrem,
Poucos sobrevivem,

Muitos morrem de solidão,
Muitos morrem com solidão,
Muitos morrem sem solidão,
Poucos sobrevivem,
Raros, muitos raros
vivem

Vida, eu quero é vida.
Sei que a morte, anda forte,
Mas nós temos uma saída.
A vida, e pra ela não há
despedida.

essa são as fortes da morte,
as faces da vida são
as proporção inversas da anterior.

moço, também tenho sonhos

Acordei hoje, meu amor
com estrelas nos olhos,
com flores nos lábios
e com paz à volta.

Olhei pra ti, paixão
e estava com face intensa
adornada por um brilho,
que era só seu.

Toquei um lado do seu rosto
a face direita, me lembro bem.
Toquei com receio
era singelo e puro.

Doce e macio, me lembro
como se fosse real.
Era bom, era lindo.
Passamos auroras juntos.

Do toque sutil e leve,
segurei seus negros cabelos
puxei seu rosto pra mim.
Foi lindo, foi bom.

Passamos um tempo juntos.

Seu rosto toquei no meu.
Macio e quente era.
Seus lábios contemplei,
bem de perto. Criei coragem.

Como mel, seus lábios.
Como meu, queria tê-los.
Num golpe de destino e tempo,
Toquei eles com o toque dos meus.

Passamos um verão nosso juntos.

Durou o tempo preciso.
Segurei sua mão.
Passei meus receios
pro nó da dança dos nossos dedos.

Receios, medos e problemas,
passamos juntos, unidos.
Minha amada e seu mel viciante.
Que dure um eterno instante.

Quero ser seu,
Quere seu mel,
Ver juntos o céu,
particular.

não apenas um ou outro,
mas um par.
pra ficar à par de tudo
isso.