missão

foi caminhando,
com os pés calçados.
por pouco tempo.
a sola de seu sapato logo desfaleceria
e seu corpo pediria arrego.
não se importava com seu corpo
mas com nossas almas.

Ouviu seis bilhões de vozes
e cada uma dizia, clamava,
rogava, gritava, reclava.
entre atender a cada um
escolheu atender a todos.

sentiam o calor da areia,
em seus pés machucados e descalços,
em seus joelhos doloridos e no chão.

dia, tarde, noite.
oração e tentação.
nossas vozes, nossas sussuros,
nossos gritos.

o frio acompanhava-o.
maltrapilho, malvestido.
bilhões de pedras
prontas para lhe apedrejar.
minha mão estava estendida.
injustiça.
ele foi a meu encontro,
e mesmo com o perigo
baixou meus braços
e estendeu os seus
em forma de uma cruz.

pedras se transformaram.
pregos, lanças, vinagre.
e cada um de nós gritou e
soltou Barabás.
pediu perdão por nós. por nós.
virou sua face e morreu.

eu o matei.
morreu por mim.

sua liberdade me mostrou
me dando-a livremente.
sem paga, sem custo.
hoje levanto minhas mãos
e quando canso me sustenta.
juntos, eu e Ele, louvamos
Suas maravilhas.

sou o pé de Cristo,
devo andar.
você é a mão de Cristo,
deve-se estender.
nós somos o corpo de Cristo
devemos nos mover.

devemos ser a face de Cristo
e resplandecer.

cappuccino

o calor chegou
espalhou-se.
gradativamente foi
colorindo cenários tão belos.
como se fosse um cortina a se abrir,
ou melhor, a se desfazer e,
subitamente, sumir.

ficou, rodeado, como
um painel cinematográfico
com frases absolutas.
aos poucos o calor cessava
e o marron-saudade
voltava se mantendo.

trouxe lembranças agradáveis.
memórias tão gostosas.
o peito sentiu uma vontade.
os olhos sentiram também.
as mãos logo esfriaram,
queriam ser aquecidas
pelo calor de querer bem.