opróbrio do passado fresco - parte 1

Pra mim foi complicado ‘tentar’ me criticar - no sentido mais penoso da palavra - e concluir que tudo que fiz foi não ter força ou coragem pra agir. Não uma ação utópica, radical, mas apenas uma ação coerente com aquilo o que disse, ou no caso do texto, com o que escrevi. Desde já lhe peço desculpas pelo que venho escrevendo, não pelos poemas – poemas são pessoais e, pra mim não tem peso político ou revolucionário, unicamente são coisas que desejo escrever, algo visceral -, e sim por todos os textos com peso esperançoso em mudanças pessoais ou universais. Fui covarde, em todos os sentidos, comigo mesmo e conseqüentemente com quem leu. E quero agora tentar reaver o tempo perdido ou talvez acrescentar alguns minutos nesse tempo.
As palavras aceitam tudo. De vômitos verbais a ignomínias literais. Não que haja problema em escrever ou expor algo. A meu ver, constitui um problema quando insultamos o sentido real das coisas e criamos textos de protesto totalmente ficcionais, nada tendo de verdade e sim tudo tendo daquilo que pensamos ser o melhor, o correto. Afinal de contas para cada gênero literário há um padrão invisível estipulado para caracterizá-lo. O problema é que esses padrões de orientação se perdem em meio a tantas confusões. Exemplo: a Ficção vem demonstrar algo meramente irreal em seu tempo, buscando uma viagem para um lugar criado, desenvolvido e propositalmente escrito, já o conto relata algo do cotidiano trazendo detalhes que prende o leitor para acompanhar o desfecho e reagir de alguma maneira. E os textos de protesto, de indignação, de insatisfação, tão presentes na blogosfera, pra que servem? Essa é uma pergunta que deveria estar nos pensamentos daqueles que fazem como eu. E a resposta é simples, basta entender o verbo que classifica esse gênero: protesto.
Pra que eu escrevo e exponho protestos? Eu posso te listar várias desculpas que eu iria dar tentando dizer que é uma razão, mas já adianto, não é. A primeira que é necessário desenvolver meu método de escrita, preciso disso, gosto disso. Bom, mas para fazer isso não é necessário encobrir o texto com valores morais às vezes desconhecidos ou mesmo, tentar mostrar que o mundo é sem ética e somos do mundo. Certo, disso podemos tirar uma conclusão lógica, eu também sou sem ética. E pra que serviu meu treino? Pra admitir, inconscientemente, que tudo que fiz não passou de tempo perdido, de um abraço no vento.
Talvez esteja pensando: “Que idiota falar disso”, ai te digo com prazer: “Hora alguma de forcei a ler”. A partir dessa frase continue quem tiver vontade, quem não quiser que vá ler outras coisas, o importante é ler, pois talvez você chegue a pensar no que eu penso: que as letras expostas possuem força, poder, mágica e graça, e não foram criadas para serem despejadas como forma de alimentar nosso ego. Não que isso seja uma verdade incondicional, é apenas o que penso. Pra quem continua meus sinceros pêsames, afinal não vai ser fácil entender meu monólogo.
Outra desculpa é que talvez se tivesse poder faria desse mundo um lugar melhor. Meros sonhos. Já me entristeço por tocar sua caixa de ultra-realidade. “Sem sonhos a vida é sem graça”. Bravo e que bom que chegamos até aqui. Sonhar, isso é bom não acha? Ou melhor, é uma das virtudes humanas. Porém os sonhos devem ser mensuráveis ou tentados, abusados, incitados, senão se tornam parte de um passado esquecido, afinal a memória é volátil.
Protestar, apenas, em texto é como gritar em silencio. Agir sem base, rumo ou crença é como atirar vendado. Há uma intensa ligação entre a ação protestante e a teoria de protesto. Corrigindo, deveria ter. O que vemos são intensas maiorias vendo um mundo de uma ótica fosca e tentando descrevê-lo com o máximo de sensacionalismo buscando impressionar e encher os olhos do leitor. Talvez eu faça isso e quero não fazer. Há uma legião de leigos acompanhando as pessoas e suas relações para compor antologias sociais em seus impecáveis blogs. Talvez você seja um conhecedor dessas relações e tente explicá-las, nesse caso desconsidere o que falo. Falo mesmo é pra mim que sou ignorante, de um modo geral. Termos como, dar murro em ponta de faca, fazer castelo de arreia na maré alta, seja uma boa ilustração para tudo isso. Pura futilidade. Talvez suas palavras me toquem e não tocam você. Perca de tempo mais uma vez. Isso que hoje tanto te indigna foi o estopim para muitas revoluções, não apenas teóricas, mas, sobretudo práticas.
Não discordo de pensar que é mais fácil criticar meu colega do que pensar que eu sou meramente mais um desses. Não que eles sejam diabólicos. Mas se isso tanto me atinge, a ponto de protestar ao mundo, por que não faço algo? Por que não me mexo? Seria para ter o que criticar amanhã? Ou pra fazer de mim um semideus e deles, meus criticados, meros seres humanos? Você tem pré-conceitos quando escreve e quando vive se cala. Palavra sem voz é palavra perdida. E essa voz da frase anterior não é apenas sonora e sim algo que impulsiona o cumprimento do comprometimento solene, do protesto feito. Descontente comigo mesmo. Talvez um dia – por mais lúdico que pareça – alguns prefiram andar pelas ruas de cabeça erguida e braço estendido, do que caminhar cabisbaixo em busca de mazelas humanas. Não preciso analisar a sociedade para me revoltar, basta apenas me observar. E se o mundo é assim a culpa é minha.