ironicamente irmãos

Jovens dançavam no ônibus em movimento.
Logo a frente via-se uma ponte.
Ponte sobre trilhos do trem.
De onde vinha aquela máquina?
E para onde iria o veículo
cheio de sonhos e sonos?
O ônibus seguia o planejamento,
soltava uma linha invisível
de combustão finada.
Dentro dele vários pensamentos sem vínculo.
Juventude transviada e viciada.
Na margem daquela ponte
de concreto forte, como o orgulho,
um jovem admirava o brilho
metálico dos trilhos. Em sua mente
uma antiga convicção de morte.
Queria terminar com seus sonhos
e não tinha esperança pós morte.
Queria ser análogo aos cães.
Sofreu e deu amor,
mas não quiseram o amar,
preferiram o ver se entregar
a miséria sentimental.
Onde estão os valores? Pensava.
E de tanto pensar chegou
convicto à idéia de finados.
Estava lá imóvel a espera da hora certa.
Seu coração não queria mais sentir,
apenas pulsar em seu ritmo acelerado.
Olhou em volta sentiu na pele
o vento veloz trazido pelo ônibus
cortando-o como uma navalha de gelo,
mas, sem o coração pra sentir
não sofria o impacto, apenas imaginava.
Os risos escandalosos dos jovens
dentro do ônibus, o impulsionaram ao precipício.
Restou frases na cabeça partida sobre os trilhos,
palavras escorriam como sangue.
Dizia assim a desgraça expostas:
Como não se compadeceram de mim?
Eu aqui sofrendo, posto ao fim
Já eles apenas preocupados com o tempo,
a velocidade e a quantidade de álcool
que ainda dispunham.
Mesmo assim pai, eu os considero irmãos.