ensaio sobre a saudade

Lutar contra o tempo era a única saída. Tentar se culpar era o que mais fazia. Tratava-se como se o tempo fosse escutar suas inquietações. Mau humor, estranheza frequente. Mas aos poucos toda sensatez ia retomando seu posto, como um soldado em ensaio militar. Hospedava na memória retalhos e vestígios de encontros fragmentados por doses de interferência e lapsos de confiança. O hospede o atentava - não atentado de terror e sim atentado de doçura e descanso -. O atentado doce como mel era também parasita e viajante. Saia e se alojava no esquecimento. De lá com frequência partia rumo à lembrança, porém, permanecia pouco tempo. Tentava transformar o mutável em constante. Seus sentimentos borbulhavam como água em chamas. Seus olhos pediam a face daquela que o aproximou das virtudes da paixão e o distanciou dos legados de ser só. Sua boca ainda esperava um toque de leveza e pureza dessa que era como uma extensão de si mesmo. O desejo era tão ávido e forte, tão claro que se assemelhava a rajadas de luz soltas de um farol velho e descontrolado. Era forte, embora seus anseios o impactassem como um tanque de guerra em intenso guerrear. Feliz era sim, porém, a probabilidade de ter um melhor momento o trazia a tristeza. Tristeza de um espaço não preenchido ou uma vaga mal posta. Uma dose de calor ou uma pitada de presença seria a gratificação das lapadas súbitas do tempo. Eram açoites de saudade. Eram desgastes da vontade. Quase impenetrável, a barreira do tempo, do espaço, da saudade e da vontade que impedia o jorrar da paixão. Mas, felizmente, prevalecia o simples amor, que não é vulnerável, nem estagnado. Concluiu novamente que a esperança invariável, a fé inabalável e o amor inexplicável eram indestrutíveis e dentre todos esses o amor é soberano.

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