10 palavras

dez palavras
pairavam em minha mente.
uma delas, pela minha boca,
passou.

duas delas de uma música vieram,
outras duas do nada surgiram,
quatro outras um amigo disse,
uma, acho, eu mesmo pensei.

mas esta que saiu,
não sei como,
nem mesmo quando,
surgiu meio que do nada,
mas, ao mesmo tempo,
me parecia familiar.

nesse mar de palavras,
essa pesquei, embalei,
de improviso,

e saiu,
e nunca mais vai voltar.

vai fazer estrago, talvez,
vai fazer afago, quem sabe,

mas já foi,
e nunca mais vai voltar.

cambaleante, trêmula, indigesta,
mas, acho, honesta.

a palavra, então,
era um simples,
por vezes incompreendido:

não.

Semente Ferida (revisado)

Ouve-se um grito do fundo de um fruto:
nasce sozinho, como a noite.
Adormecido pelo veneno do destino,
agora só, ele clama por socorro.

Esse grito sussurra as dores do tempo.
Mórbido, mas grato, ele aplaude
seu próprio surgimento —
reconhece que cada um tem sua sina.

Vive almejando saber, conhecimento,
para preencher as lacunas do destino.
Mas seu instinto apaga o dia aprendido
e, com o tempo, monotonia vira contentamento.

A solidão ainda corrói sua alma.
Tenta escapar da lembrança,
mas seu brilho aumenta de expectativas —
irradia forte, como a esperança.

Seus sonhos começam a solidificar.
Um dia, uma brisa o carrega para o céu
e ele voa, como folha no outono.
A brisa cessa. Ele despenca.

Gritos de esperança tornam-se angústia.
Cai sobre a terra molhada
pelas lágrimas do céu, que se emociona.
Cobre-se rápido, espantando o frio.

Então, coberto pela terra úmida, ele cresce.
Suas cóleras ficam com a casca extraída.
Ele se abre: de seu interior sai a esperança acumulada.
O grito agora é mais alto, mais agudo, feliz.

Não grita mais em busca de ajuda —
grita jubilando, louvando
pela doce brisa que o trouxe até aqui.

corte

corte sem navalha
e sem simetria
vai cortando e
retirando todo
o excesso poético,
tudo além da poesia.